Um gesto a que assomasse algum amor
ou um olhar solidário de velho camarada:
nem eles poderiam já infectar de vida insolente
o deserto dos dias que se movem por detrás das altas janelas
ou por dentro dos subterrâneos.
Ninguém mais vem para a varanda cantar teimosamente
o que dói nas nossas vozes e dorme nas nossas veias.
Os sinos continuam a tocar nos dias escuros e claros
sobre ruas desertas ou só atravessadas a medo, porta a porta,
vida a esconder-se de viver.
Pela noite alguém escreve, mas sabe que não escreve para si
nem para os leitores que perdeu noutras idades.
Que um rosto assome à janela, que um verso se perca na rua,
que o nosso orgulho de viver possa durar para além das nossas vidas.
Sou um homem de 69 anos que escreve esta noite.
Leio algures num jovem poeta que “a malta dos 68 anos”
reduziu os seus interesses a ver notícias, cuidar de doenças
e exercitar a retórica.
Aqui venho humildemente, porque está escuro em toda a parte,
sarar a doença da retórica na triste notícia deste poema.
Un gesto che annunciasse un po’ d’amore
o uno sguardo solidale di un vecchio camerata
neanche loro potrebbero contagiare la vita impertinente
il deserto dei giorni che scorrono dietro le alte finestre
o dentro i sotterranei.
Nessun più viene al balcone a cantare testardamente
ciò che duole nelle nostre voci e dorme nelle nostre vene.
Le campane continuano a suonare nei giorni oscuri e chiari
sulle strade deserte o solo attraversate con timore, porta a porta
Vita che si nasconde dal vivere
Nella notte qualcuno scrive, ma sa che non scrive per sé stesso
né per i lettori che ha perso in altre età.
Che un viso appaia alla finestra, che un verso si perda nella strada,
che il nostro orgoglio di vivere possa durare oltre le nostre vite.
Sono un uomo di 69 anni che scrive stanotte.
Leggo da qualche parte in un giovane poeta che “i sessantottenni”
hanno ridotto i loro interessi a seguire notizie, prendersi cura di malattie
ed esercitare la retorica.
Vengo qui ora umilmente, poiché è buio da ogni parte,
curare la malattia della retorica con la triste notizia di questa poesia.
Luis Castro Mendes